Quem é o poeta?
O poeta é um marginal. Talvez, seja ele mesmo a própria
margem. Aquela linha no canto do caderno, o espaço em branco entre as pautas e
até a agonia bela da não criatividade... tudo isto é o poeta. Um ponto, um
pingo. Gota de chuva fina no verão e o oceano inteiro! Ah... (suspiro)isto
também é o poeta. Olhos chorosos, risos nervosos, vozes roucas. O silêncio
(silêncio). Gordura no copo, no sabão que lava o copo. Espuma. A água gelada, o
frio do dente, boca sem dente. O poeta vive nesses versos soltos, de boca em
boca. Como um parasita, se alimenta do tempo daqueles que o perdem. Contemplam
a vida com desdém os tais moços. Sempre debochando dos mortais sem poderes, sem
palavras. Isto é poesia. Às vezes, eles viram prisioneiros de seus desejos.
Essas coisas cheias de curvas e voltas e laços. As poetisas se encantam com a
força e os músculos e as sutilezas. Quem mais poderia ser tão provocante, se
não palavras, versos, estrofes, poesia. Disseca-se, pois, o poeta. A luz que
não acende, o escarro e a felicidade. É ser poeta, puramente. Sorvete de
passas, sem passas. Quem precisa de passas? Tímida luz neon, farol de lagoa, o
infinito. O fim. Nunca o começo. Mover, morrer...morrer...morrer...poeta, poeta
era em cada segundo. Quando um poeta nasce, ele só nasce e jamais vira cinzas.
Bandeira escreveu "cinzas" simplesmente por não poder ele, sê-las. O
poeta é tudo aquilo que fica entalado na garganta. A tentativa perdida, a
oportunidade perdida, a vitória perdida. Na mediocridade encontra-se a
verdadeira essência do poeta. E não é mediocre ser poeta. Só é poeta, então,
aquele capaz de ser, denunciar o ser e, sem mais nem menos, ser poeta em todas
as suas estranhezas. Do que não foi dito, Do que não foi feito. Das rimas
fáceis, das não rimas, do difícil. Do que não se gosta, do que é feio. São
"Istos" o poeta. A fé que perdemos ou nunca tivemos. Eis o poeta!
Aqui está o poeta! O poeta somos nós. E entenda por nós, quem quiser.
Fernanda Chacar
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